quinta-feira, agosto 28, 2008

Memória.

Para além de minha lembrança, eu não guardo quase nada.
Não guardo cartas de amores antigos. Não guardo brinquedos de minha infância.

Nem fotografias de encontros de família, nem cadernos do primeiro grau.

Minha memória é meu reino.
Minha memória fraca e vacilante.
Que redesenha passados remotos. Que reconta, recria.
Tudo que me é precioso, guardo nessa caixa inconstante.
Guardo nessa caixa mágica que, com o tempo, transforma tudo. Eu gosto das transformações: as novas cores, de tintas carregadas, as distorções que tornam o sofrimento mais sofrido, que tornam a frase mais conclusiva, e o momento especial ainda mais especial. Tudo muito mais significativo.
Essa caixa que se encarrega de definir o que é relevante, o que realmente importa, e como é que importa. Que tem seu auto-eminador automático. Muito útil, essa função.
Penso que, se algo ou alguém ainda existe na minha lembrança, ainda existe na minha vida. E assim, tudo de que me lembro ainda faz parte do meu Presente. O passado só é Passado quando é definitivamente esquecido. Quando já não consigo mais me lembrar, ainda que tanto queira.

Penso que assim, curiosamente, sou mais feliz.

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