terça-feira, março 13, 2007

Os Gritos

Houve um tempo na minha vida em que eu achava que escrevia muito bem. Bom, este tempo passou. Hoje, eu continuo escrevendo muito mais para não desabar do que por acreditar que tenho algo de novo a dizer. Não tenho um texto de vanguarda, não sou capaz de grandes metáforas e minhas análises são tão profundas quanto um prato de sopa. Na verdade, minha relação com este blog é bastante confusa. Eu gosto dele, mas o acho perfeitamente dispensável. Ninguém faz muita questão de acompanhar minhas elucubrações solitárias.

And still, I keep writting. Why?

Por que divulgar na internet trechos de livros que todo mundo conhece, músicas que todo mundo ouve? Se um blog é na verdade uma coisa assim tão pessoal, por que lançá-lo no maior canal público do mundo? Por que não manter um singelo diário com cadeado em forma de coração, escondido no fundo da gaveta de calcinhas, como provavelmente nossas avós faziam? Simples, meu caro Watson... O que a gente quer, mesmo mesmo mesmo, é estar presente no mundo. A gente quer gritar do que a gente gosta, o que a gente sente, o que nos agrada ou irrita, que é pra ver se alguém repara. Quer é dar sinais ao mundo de que a gente existe, quer urrar desesperadamente que a gente não é só mais um no meio da massa. Porque a gente quer acreditar, a gente precisa acreditar, que há algo que nos é inerente e único, e que nos torna especiais, mesmo que talvez na verdade não haja.

Todo mundo quer se sentir diferente, quer fazer a diferença, só que o problema é que ninguém tá nem aí pra ninguém, se tá feliz ou triste, se é inteligente ou burro. Então a gente vai ficando assim, cada vez mais carente e cada vez mais rouco de tanto gritar o próprio nome, os próprios feitos. E como todo mundo grita ao mesmo tempo, ninguém ouve ninguém. As pessoas vão se isolando nesse universo de sons e vozes misturadas e ininteligíveis, e se perguntando atônitas porque é que, afinal, a sua voz não soa mais alta que as dos demais.

Um blog é uma garganta, e cada post é um grito: "REPARE EM MIM. EU SOU INTERESSANTE". Muitas vezes nem nos damos conta da quantidade de coisas que fazemos/dizemos/escrevemos simplesmente porque precisamos ser notados.E é justamente por isso que o mundo bloguístico é tão fascinante: sempre há possibilidade – remota, porém concreta – de alguém por acaso descobrir o seu blog e o achar interessante. De alguém que você nunca viu na vida reparar em você. E, pra esse alguém, você fazer diferença.

2 comentários:

Odin Orwell disse...

Você é interessante!! A prova disso é que não mantenho amizade com pessoas desinteressantes... procuro sempre por meus pares (kkkkk). Saudades demais de ti!! (Estou mais modesto atualmente)

Unknown disse...

Criar a possibilidade de que alguém testemunhe a sua vida, ainda que a distância. Se alguém for testemunha, significa que aconteceu. Você existe.
É como a história da árvore que cai no meio da floresta. Será que ela fez barulho? Se não tinha ninguém por lá pra escutar...