sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Minha Mãe

Antes de fazer o que faz hoje, minha mãe trabalhava com crianças. Durante toda a minha infância, minha mãe era professora de maternal. Falando assim pode não parecer nada de mais, mas a verdade é que isso trouxe conseqüências sérias para a minha vida. Como minha mãe ficava com crianças o dia inteiro, quando chegava em casa, à noite, não tinha paciência para ficar comigo e com a minha irmã. E nós, é claro, queríamos a atenção dela, pois já tínhamos ficado longe o dia todo. Ela queria descansar e acabava se irritando com a gente...Em suma, eu fui uma criança que apanhou bastante. Não posso deixar de dizer que muitas das surras foram merecidas, porque eu não era fácil. Mas penso que ela acabava descontando uma parcela de suas frustrações na gente. Muitas das minhas travessuras poderiam ter sido reprimidas apenas com broncas, mas não foram. Acho que ela não tinha muita paciência para dar broncas. Ela nunca foi violenta(ela nunca machucou a gente realmente - nunca fiquei roxa por causa de uma surra, por exemplo), mas era extremamente agressiva. Era o modo como ela batia na gente, as coisas que ela dizia ("você é horrorosa"," você atrapalha a minha vida" , "eu te odeio"), o olhar dela para a gente... Não me lembro de quase nada da minha vida até os 13/14 anos (??), mas disso eu lembro... Agora eu moro longe, em outra cidade, e foi preciso que isso acontecesse, que eu me afastasse, para que pudesse realmente perdoá-la. Hoje eu gosto da minha mãe, me dou bem com ela e acho sinceramente que é minha amiga, que gosta de mim. Mas analisando criticamente, não posso deixar de associar a minha insegurança patológica - a dificuldade absurda que eu tenho de aceitar que alguém possa sinceramente me amar simplesmente pelo que eu sou - ao modo como a minha mãe lidava comigo. Percebo esses reflexos não só na minha personalidade, mas também - e talvez até mais acentuadamente - na da minha irmã. É triste perceber como as coisas que acontecem na infância podem afetar um indivíduo o resto da vida. Sei que a minha minha mãe nunca pensou que seu "método disciplinador" poderia resultar em complexos para suas filhas. Eu e a minha irmã já conversamos bastante sobre isso. Sabemos que ela queria apenas que suas filhas fossem perfeitas: as mais inteligentes, as mais bonitas, as mais educadas. E como nós não éramos, embora nos esforçássemos consideravelmente, ele ficava com raiva. Toda mãe quer o melhor de seus filhos; ela simplesmente extremava isso. Acho que ela nunca vai admitir que errou no modo como nos educou, porque se hoje somos adultas responsáveis e honestas, trabalhoras e que não usam drogas, então ela julga que fez um bom trabalho. Para ela, o fator emocional não faz parte do processo educador. Então, para ela, não tem muito problema (se é que ela se dá conta disso) que nós tenhamos tantas dificuldades em lidar com as questões emocionais, porque não era sua responsabilidade. Minha mãe é uma mulher também bastante insegura, embora faça questão de aparentar o contrário (exatamente do mesmo modo como eu e a minha irmã fazemos), e sempre pergunta se nós achamos que ela é uma boa mãe. Nós dizemos que sim. Não queremos magoá-la. Mesmo porque, nos outros aspectos que envolvem a vida infantil, ela foi realmente uma excelente mãe - nunca deixou nos faltar nada, tivemos boas escolas e bons brinquedos. E, no fim das contas, nenhuma mãe - e nenhuma filha - é perfeita. Penso que talvez a insegurança dela tenha algo a ver com sua relação com a minha avó durante sua infância... mas isso é assunto para outro post!
Tenho medo de ser mãe.

Nenhum comentário: