sexta-feira, março 30, 2007

Mocinha.



Nunca fui uma pessoa prática. Sempre sonhadora, sempre querendo que a vida fosse um romance açucarado, bem leve. Só que a realidade insiste em desabar, bem pesada, na minha cabecinha doidivanas. E eu nunca me acostumo. A vida não é mesmo como as novelas das seis da tarde, nas quais o herói é sempre herói e o vilão é sempre vilão. Na vida real os personagens se misturam, se confundem, porque ninguém consegue ser perfeito cem por cento do tempo, mesmo. E eu não sei mais se sou mocinha ou se sou vilã.

quinta-feira, março 29, 2007

...

Benditas coisas que eu não sei
Os lugares onde não fui
Os gostos que não provei
Meus verdes ainda não maduros
Os espaços que ainda procuro
Os amores que eu nunca encontrei
Benditas coisas que não sejam benditas

é desse jeito!

O teu amor é uma mentira
Que a minha vaidade quer
E o meu, poesia de cego
Você não pode ver
Não pode ver que no meu mundo
Um troço qualquer morreu
Num corte lento e profundo
Entre você e eu
O nosso amor a gente inventa
Pra se distrair
E quando acaba, a gente pensa
Que ele nunca existiu

quarta-feira, março 28, 2007

A Minha Casa

A minha casa é bem pequenininha. Quarto, sala, banheiro, cozinha. Tem um sofá laranja, um quadro na parede, e muitos livros. Tem outras coisas também, mas eu gosto mesmo é do quadro, que veio lá de longe, e é bem pequinininho e bem lindo. Igual à minha casa. Tem sempre chocolate e patê de atum na minha casa, e a cama está sempre bagunçada. Tem um monte de bichinhos de pelúcia, arrumadinhos na prateleira em cima da cama. O banheiro tem box de vidro e vários tipos de sabonete líquido, que eu adoro sabonete líquido. Tem muito hidratante, também. Adoro hidratante. Antes eu não gostava, minha mãe usa hidratante demais. Agora tô ficando igual a ela, toda melecada de hidratante de noite, antes de dormir. Eu durmo sempre sozinha, porque eu moro sozinha e o dono do meu querer mora num longe ainda mais longe do que o longe de onde veio o meu quadro pequenininho. A minha casa tem o tamanho perfeito para mim, para meu porte pequeno, meus pequenos sonhos, minhas pequenezas.

terça-feira, março 27, 2007

Seu aniversário.

Hoje é seu aniversário, e eu não falei com você. Hoje, você tem 24 anos.
Espero que esteja bem, que esteja feliz, que goste da cidade nova, e que esteja confiante de que fez as escolhas certas.
Espero que tenha me perdoado, e que tenha se perdoado também.
Sempre me lembro do seu aniversário, porque é junto com o do Renato. Nunca passamos juntos o seu aniversário, e agora acho que nunca passaremos. Nunca estivemos tão distantes, na verdade. É estranho que a tanto tempo não nos falemos, e que você ainda faça tanta falta. Tem uma parte de mim que é só sua. E tem uma parte sua que é só minha. Você sabe. Você não foi o meu maior amor, mas seguramente foi especial. Sinto falta de não ter que explicar o que penso, e como penso. Sinto falta do jeito que você olhava - olhos de cão devorador. Às vezes ainda me pego pensando nas nossas últimas brigas, no conto da Cartomante. Tão dolorido tudo aquilo. Ainda dói. Você era um dos maiores amigos, como é que a gente pôde se ferir tanto? meus olhos ainda enchem d'água quando lembro. Tanta mágoa que veio depois, tanta deslealdade.. e ainda assim, não consigo ter raiva. tenho saudades, só. E um pouco de mágoa guardada por não ter entendido porque você fez tudo aquilo. Logo você, que eu entendia tão bem... Talvez a gente fosse igual em coisa demais, ou fosse diferente em coisa demais, não sei. Sinto falta de rir junto, ler poema junto, da sua cachorra latindo na porta do quarto. Às vezes queria que ainda fosse julho, que você ainda estivesse estudando cinema, e eu ainda estivesse no segundo semestre. Não para impedir tudo o que aconteceu depois, mas para aproveitar melhor o que ainda estava acontecendo. Não sei se seria melhor se tivesse sido diferente. Não sei se mudaria o rumo das coisas, se tivesse a chance. Não sei se a gente seria mais feliz estando juntos hoje. Mas sinto falta daquele tempo. Se eu tivesse que escolher um mês só para mim, um mês de minha predileção, seria julho. Sempre acontecem coisa boas em julho. A gente foi tão feliz em julho, e vieram outros julhos muito bons também, depois. Mas agora é março, e março nunca é um mês muito legal.
Feliz aniversário pra você, meu querido.

...

"Talvez o inferno seja um lugar. Mas ninguém precisa ficar para sempre em lugar nenhum."
Acho que, para mim, o inferno era a casa da minha infância. Com seus fantasmas, seus ruídos, suas energias, suas lembranças e tudo o que me fazia tão mal. Demorou para ter coragem, mas eu saí de lá. Onde é o seu inferno? O quanto mais você ainda vai ter que agüentar antes de ter coragem de ir embora?

quarta-feira, março 14, 2007

Algum lugar na Terra, hoje.

Concurso de Beleza organizado durante a guerra.
Na faixa, lê-se: "Não deixem que eles nos matem"
Sarayevo, 1995.
Urubu esperando a criança morrer. Sudão, 1994

Crianças da Juventude Ku Klux Klan, 2006

Alguém me explica o que está acontecendo no mundo?

Por que diabos as pessoas continuam fingindo que nada disso está acontecendo?


Ruanda, 1997

terça-feira, março 13, 2007

Os Gritos

Houve um tempo na minha vida em que eu achava que escrevia muito bem. Bom, este tempo passou. Hoje, eu continuo escrevendo muito mais para não desabar do que por acreditar que tenho algo de novo a dizer. Não tenho um texto de vanguarda, não sou capaz de grandes metáforas e minhas análises são tão profundas quanto um prato de sopa. Na verdade, minha relação com este blog é bastante confusa. Eu gosto dele, mas o acho perfeitamente dispensável. Ninguém faz muita questão de acompanhar minhas elucubrações solitárias.

And still, I keep writting. Why?

Por que divulgar na internet trechos de livros que todo mundo conhece, músicas que todo mundo ouve? Se um blog é na verdade uma coisa assim tão pessoal, por que lançá-lo no maior canal público do mundo? Por que não manter um singelo diário com cadeado em forma de coração, escondido no fundo da gaveta de calcinhas, como provavelmente nossas avós faziam? Simples, meu caro Watson... O que a gente quer, mesmo mesmo mesmo, é estar presente no mundo. A gente quer gritar do que a gente gosta, o que a gente sente, o que nos agrada ou irrita, que é pra ver se alguém repara. Quer é dar sinais ao mundo de que a gente existe, quer urrar desesperadamente que a gente não é só mais um no meio da massa. Porque a gente quer acreditar, a gente precisa acreditar, que há algo que nos é inerente e único, e que nos torna especiais, mesmo que talvez na verdade não haja.

Todo mundo quer se sentir diferente, quer fazer a diferença, só que o problema é que ninguém tá nem aí pra ninguém, se tá feliz ou triste, se é inteligente ou burro. Então a gente vai ficando assim, cada vez mais carente e cada vez mais rouco de tanto gritar o próprio nome, os próprios feitos. E como todo mundo grita ao mesmo tempo, ninguém ouve ninguém. As pessoas vão se isolando nesse universo de sons e vozes misturadas e ininteligíveis, e se perguntando atônitas porque é que, afinal, a sua voz não soa mais alta que as dos demais.

Um blog é uma garganta, e cada post é um grito: "REPARE EM MIM. EU SOU INTERESSANTE". Muitas vezes nem nos damos conta da quantidade de coisas que fazemos/dizemos/escrevemos simplesmente porque precisamos ser notados.E é justamente por isso que o mundo bloguístico é tão fascinante: sempre há possibilidade – remota, porém concreta – de alguém por acaso descobrir o seu blog e o achar interessante. De alguém que você nunca viu na vida reparar em você. E, pra esse alguém, você fazer diferença.

quinta-feira, março 08, 2007

o tamanho da minha megalomania

só para constar, o vaso ming da foto do post abaixo foi arrematado num leilão em maio do ano passado - pela módica quantia de 8 milhões de euros.
nem precisava, mas eu fiz a conta: oito milhões de euros equivalem hoje a 22 milhões e 132 mil reais, aproximadamente...

2037

O meu amor foi embora e (só deixou para mim um bilhetinho todo azul, com seus garranchos) . Isso significa que não tem ninguém mais na minha casa para me (encher o saco) fazer carinhos, cafunés e derivados românticos. Muito triste. E eu nem sei quando vou vê-lo de novo. Definitivamente, muito triste. Eu não tenho dinheiro para ficar pagando massagista toda semana, não... Um saco isso de ser pobre. Eu nasci para ser madama, meus caros, ma-da-ma. Esse negócio de Achan é temporário. Muito temporário. Quero ver se em 2037 eu ainda vou estar nessa vida. Quero só ver. Em 2037 o homi não irá mais embora, eu não serei mais uma (mulé largada) pobre coitada e nós nadaremos em rios de dinheiro. Em 2037 eu terei um Dalí original, oito cachorros, um par de jarros da dinastia Ming, uma banheira de hidromassagem, um jogo de malas victor hugo, um i-phone de última geração, uma passaporte civil com visto para 37 países (só viagem a passeio!) e um manuscrito do García Márquez. Além, é claro, do biombo indiano do século XVI e da cama conceito "my bed" (se não conhecem, procurem!!). Tudo isso em 2040. Ai, ai...